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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Por que se suicidam as flores quando se sentem amarelas?
Pablo Neruda.


Já se disse da História mais do que sobre a vida. Teorizou-se bastante ao ponto de cindir o mundo das letras do mundo das paixões cotidianas. Fez-se da abstração o sentido último da atividade pensante como se atividade tivesse sentido e conforto na imobilidade de um ponto.Pontinhos de interrogação vertidos em alunos encharcam as instituições de ensino superior todos os anos ou semestres com a curiosidade própria da juventude que em qualquer tempo quer estar à altura de seu tempo para ver adiante. Universidade, capela que vela o conhecimento criado pela humanidade. Bendito carneiro, que promete com sua expiação um mundo abastado de trigo e canto – feliz. “Veremos outras matizes de cores”, dizia eu para um amigo quando me fiz estudante de história.

Nada sabia sobre um maldito consenso gerado em outras terras que afirmava que a vida em todas as suas dimensões era vendável. Paulo Freire e sua utopia revolucionária? Besteira. Da educação se fez um pacote, mercadoria de vitrine, e os educadores atônitos embarcaram no projeto covarde das milícias empresariais. Mais uma vez a vitória do abismo que separa o labor especulativo da vida concreta dos povos. Voltamos à escolástica medieval? Quase, entramos na Idade da pragmática do cálculo que mensura custo e benefício a serviço de uma produtividade estéril, intragável e intraduzível. Ontem, as letras a serviço da prova racional e inconteste da existência de Deus. Hoje, os esforços para aplacar a fúria do Deus-Mercado.

No meu périplo pelo mar da História-Institucional esbarrei-me em muitas dificuldades, sobretudo, no falar tóxico dos intelectuais de gabinetes, gente feia que seduz somente os fracos de espírito. Uma mórbida fixação pelo falar enrolado que diz mais do grupo hermético orgulhoso de seu lugar no mundo do que sobre História e as implicações desse saber para a vida. Dificuldades outras, de adaptação mesmo quando constrangimentos alheios prescreviam minha ética condenando-me ao embotamento. Assédios morais, para os que se viciaram na linguagem dos copistas modernos. Queria cores - estudante de história, enorme ponto interrogação: Deram-me a assepsia de um conhecimento aplicável aos interesses do meu umbigo desde que ele seja compatível aos interesses do mercado.

Geração do Consenso, nascidos após o expurgo dos anos de chumbo, o que faremos? As folhas amarelas insistem no vermelho que não há mais. Já hipotecaram o coração. Mas o vermelho é o mesmo que correu das veias dos antigos avós, amor que não se agüenta: violenta o mundo criando caminhos. Diversos, in-versos... alunos vertidos poetas, apanhadores de sonhos dos tempos passados, portanto, do tempo por-vir. Historiadores... Mais que isso, revolucionários... crianças a construir castelos para destruir. Ociosos.

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Os de hoje

segunda-feira, 11 de agosto de 2008


Acompanhemos destas paragens suburbanas, trópicos de tantos outros trópicos, o suposto de miragens-filosóficas-indígenas que nos acalenta com o mais terno mito. E comecemos por ele, o mito fundador, que me arrasta par as esquinas sem beiras, que me entope de gozo, primaveras a roçar os nossos cílios, para sempre. O sempre do tempo oportuno (a nossa única pragmática), da bonança. Tu sentes esse tempo, irmão? Somos os primeiros homens, não há para trás pra nós. Nem pra frente.Comecemos do alto, costume pra respirar ar vivo:A primeira das questões na ponta de lança do ataque em transe dos Tupinambás. Está consubstanciada na carne de Cristo, bocas e bocas a tocar às chagas – gozo católico, meu e seu também. E vem como um estouro na calmaria das selvas de coca colombianas, resignada na boca de um aymará, a provocar distúrbio. Tu sentiste também no peito a altura destes Andes que nos metemos?


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Teatro cotidiano.

domingo, 10 de agosto de 2008


Sim. É isso, resolvi escrever, por que é mais que vício ou qualquer outra paixão anônima, no redemoinho dos sentimentos sem essência.
Cada espaço em branco – um banco na espera do vocábulo órfã de sentido.
Os dedos deslizam no afã, de alcançar o pique do coração; que guarda os passos dos moços desalinhados.
Os olhos seguem a fumaça, em busca do sabor da infância que sempre vem à tona, nos momentos em que é mãe.
Segura a barra da saia. Chora no pano de prato. Ensaia os beijos em cima da panela de feijão.
Afia a faca, mas corta o pedaço de frango. Pois já aguaram, seus planos e ainda resta esperança na ponta dos pés.
Sangra o segredo, na sacola de plásticos. Enquanto abre a lata de remédios, que curam a azia do dia com poucas vírgulas e nenhum ponto.

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